Testemunho em espanhol
“A vida é uma aventura. As melhores aventuras sempre serão com Deus.”
Nasci em Curitiba, no dia 28 de novembro de 1992, em uma família católica e muito praticante. Esse fato demonstra muito o ponto de partida da minha vocação e onde Deus quis colocar, desde o início, as bases da minha vida: a fé e uma família que sempre buscou a Deus.
Reconheço que meu pai não foi muito praticante desde sempre, mas minha mãe tem um caráter decidido em relação às coisas de Deus. Ela nunca desistiu com todas as suas forças de lutar pelos valores que devem guiar a vida familiar e, posteriormente, minha própria vocação. Arrisco dizer que somos quem somos, cada um de nós, graças à minha mãe.
Tenho dois irmãos, embora com o mais velho quase não tive muita relação ao longo dos anos. Minha irmã mais nova, por outro lado, esteve constantemente ao meu lado, apoiando-me em cada momento do meu processo vocacional e buscando, apesar da distância, que tivéssemos uma relação profunda.
Minha infância foi muito simples. As maiores lembranças que tenho desse período são uma viagem em família a um parque de diversões que eu desejava muito visitar, um “momento” muito difícil para a família, o nascimento da minha irmã e várias atividades nas quais minha família dedicava tempo para participar na paróquia. Parecem fatos desconexos, mas todos eles moldaram minha vida e me prepararam para começar uma grande aventura no ano de 2001.
Quando se ouve falar em “história vocacional”, é comum esperar por eventos extraordinários determinados por momentos de conversão e chamado. Realmente não vai ouvir quase nada disso na minha história, pode ter certeza. No meu caso, isso é irrelevante, porque não posso contar coisas extraordinárias, senão ordinárias demais. Espero não te decepcionar! A realidade é que para mim o mais “extraordinário” tem sido ver como Deus tem trabalhado na minha vida pouco a pouco com muita paciência e que, apesar das minhas misérias e limitações, tem procurado transformar meu coração até hoje. É realmente extraordinário como Deus se aproveita de tudo: das coisas boas e belas, mas também de coisas que jamais nos imaginamos como podem ser nossos pecados e maneira de ser, ou uma circunstância familiar e de fracasso.
Ou seja, minha história tem sido um caminho lento e incrível de mais de 23 anos de contínuas e pequenas manifestações de Deus no ordinário da minha vida.
No início deste ano de aventuras que mencionei antes, depois da dificuldade que meus pais tiveram para que eu pudesse me comportar na missa, eles me deram permissão na paróquia para começar a ser coroinha. Realmente tem sido uma grande conquista, porque se alguém me conhece, deve imaginar como eu devia ser inquieto quando criança. E acontece que, por volta do mês de agosto, em uma dessas missas, se escutou falar que viria um padre estrangeiro para celebrar a missa porque o pároco não poderia estar presente naquele dia. Nesse dia, me deparei com um homem vestido totalmente de preto (algo que nunca tinha visto antes nos padres diocesanos) e que não sabia dizer uma única palavra em português. A verdade é que ele chamou muito a minha atenção; mas também devo reconhecer que ri muito durante a missa inteira pela maneira como ele falava e porque tudo o que ele dizia eu interpretava mal. Este padre tinha acabado de chegar ao Brasil há poucos dias e, sem saber ainda como pedir um pão na padaria e como distinguir o “r” português do “r” americano, já estava enfrentando homilias traduzidas por outros membros de sua comunidade em minha paróquia. Ou seja, parecia uma piada.
O Pe. Kevin Baldwin LC havia chegado para trabalhar nas seções de senhoras na minha cidade. Eu não sabia e não me importava o que eram seções e tampouco sabia que havia padres religiosos. Mas me lembro que ele tentou explicar quando estava celebrando aquela missa.
Minha paróquia, neste período, havia solicitado no seminário dos Legionários – que ficava a poucos quilômetros de minha casa -, um padre que pudesse apoiar uma vez por mês nas missas da paróquia. O pároco estava muito sobrecarregado de trabalho e não conseguia cobrir todas as missas. E assim começou tudo!
Como bom legionário, o padre não deixava de aproveitar cada oportunidade para “ganhar adeptos para seu time”: começou a convidar as pessoas da paróquia para as atividades do Regnum Christi. E a mim, um dia depois de ter ajudado como coroinha na missa, me convidou para participar do Ecyd.
Tive poucos encontros relacionados com as atividades da primeira etapa do Ecyd e depois parei de participar por dois anos por causa das aulas de catecismo para poder fazer a minha primeira comunhão. Mais tarde voltei para a segunda etapa. Porém, o que foi que me levou a entrar no seminário? Na minha cidade, eles aproveitavam a presença dos apostólicos do seminário menor para colocar eles de responsáveis nas atividades do Ecyd. Lá conheci alguns deles e desde o primeiro momento me chamaram a atenção. E comecei a perguntar ao padre sobre eles: quem eram eles, o que faziam, por que estavam no seminário… Sempre fui uma criança inquieta e queria saber de tudo. Na época, era costume que todas as crianças do Ecyd fizessem um retiro no seminário para que tivessem uma experiência da vida do seminário; a partir dessas atividades, chamavam alguns para o programa de verão do seminário. Até hoje, não acredito que seja só porque participei de algumas atividades do seminário que me convidaram para entrar. Talvez, também, por minha curiosidade, pensaram que eu poderia ter uma inquietação pelo sacerdócio. A verdade é que não me lembro de tudo porque era criança. Uma coisa é certa: a vida do apostólico me atraía muito por todas as atividades que faziam: jogos, passeios, dinâmicas etc.
Há algo que quero deixar claro aqui: obviamente uma criança de 12 anos não tem clara uma vocação e não é capaz de perceber tudo o que implica seguir um discernimento vocacional. Mas não podemos negar que Deus de muitas maneiras vai levando cada um de nós a descobrir sua vontade. Como posso saber que Ele está me chamando e como posso ser capaz de discernir este chamado? Para mim, não há dúvida de que a alegria profunda, a paz em tudo o que faço e muito evidentemente a mão de Deus a partir das experiências que Ele me permitiu viver, eram provas disso. É verdade que, na época, quase era inconsciente da decisão que tomei; mas também o entusiasmo que temos como crianças e como jovens me ajudou a dar passos que sendo adultos nos maravilhamos ao nos perguntarmos como fomos e somos capazes de ser corajosos. Durante os anos todos estes elementos fui levando à oração e vendo claramente um chamado de Deus a ser sacerdote.
Minha entrada na apostólica foi o 4 de janeiro de 2005. A partir deste dia tem sido realmente uma grande aventura cada dia, cada etapa e cada passo que dei de mãos dadas com Deus para chegar até este 27 de abril de 2024, dia em que serei ordenado padre. Dos anos de formação, gostaria de me concentrar e sintetizar em 2 coisas.
Primeiro, não há dúvidas de que cada momento faz parte da experiência que estou contando neste momento, e as experiências também negativas são parte da vida que estou vivendo. Se eu não conseguir dar um significado a esses momentos, começarei a me determinar a partir de coisas muito concretas (sejam elas positivas ou negativas), mas nunca conseguirei fazer uma leitura do todo a partir do que estou chamado a ser. Por que digo isso: nesses 19 anos tive muitos momentos felizes que lembro com muito carinho, mas também momentos de muita dor e sofrimento. Seguir a Deus exige renúncias. O que mais tive que aprender é renunciar a mim mesmo. Pensei algumas vezes durante esses anos que, já que seguia a Deus, tinha o direito de fazer muitas coisas boas por Deus e aproveitar tudo o que ele permite. Mas isso talvez me tenha levado a ver mal os momentos de prova e duvidar da minha vocação. Percebi, principalmente nos últimos anos, que se deve aproveitar tudo, inclusive os momentos difíceis e talvez dolorosos. Parece contraditório, mas é parte da nossa vida. Seguir a mensagem do Evangelho exige em todos os estados coragem e valentia para não se deixar levar por meros idealismos. Hoje posso dizer que esses momentos me deram luz para ver a vida com mais maturidade e foram justamente esses momentos que forjaram minha decisão.
E segundo, não quero deixar uma visão pessimista da minha história. Para quem me conhece sabe que adoro aproveitar, que gosto de viver cada momento com intensidade e que adoro me divertir sempre. Se eu fosse contar todos estes momentos, realmente seria muito divertido, mas nunca terminaria esta história vocacional. Mas sim, quero mencionar coisas que gostei muito desses anos: sempre gostei da vida comunitária e de como nos levávamos entre todos em família; a sã exigência e disciplina me formaram muito; gostei de todos e cada um dos momentos que me levavam, através dos retiros, a encontrar-me com Deus; a maneira de sair ao encontro das pessoas com um apostolado entusiasmante; as oportunidades de formação; os verdadeiros amigos que formei durante esses anos e que são, assim vejo, muitas vezes a causada minha perseverança já que estiveram e estão ao meu lado para me apoiar; os formadores e diretores espirituais que foram realmente muito pacientes comigo; a maneira que a Legião evangeliza e transforma a sociedade… A lista é longa, mas vocês perceberam um pouco o que realmente valorizo e levo desses anos.
Não posso negar que a Legião tem sido uma verdadeira família para mim e meus pais quase não saíram nesta história. Mas quero fazer verdade na minha vida: passei muitos anos fora do Brasil e longe da minha família; talvez aparentemente minha família não se envolveu em todo o meu processo, mas não há dúvidas de que se estou aqui hoje é graças ao apoio de cada um deles e suas sinceras orações para que eu pudesse descobrir a Vontade de Deus na minha vida. E agradeço sinceramente a eles.
Para terminar, quero agradecer a Deus por cada passo desta história pois teve um olhar de amor muito grande para comigo. Mas também agradeço a muitíssima gente que conheci durante esses anos: todos vocês fazem parte desta história! Se hoje sou quem sou é graças a todos vocês, sua amizade, suas orações e apoio. Tenho uma lista muito grande de pessoas que trago no meu coração com muito carinho e que me faz emocionar muito cada vez que me lembro de cada uma delas. As pessoas nos dão tanto a través de diversos gestos e nos levam a formar um coração sacerdotal.
E posso concluir dizendo que sinto com muita convicção, depois de um caminho sincero e satisfatório e com tudo o que isso implica (as dificuldades deste caminho, etc.), que minha vida foi chamada a se realizar no sacerdócio. O modo concreto de me entregar no sacerdócio Deus o revelou por meio da Legião de Cristo. Aqui é onde me sinto plenamente feliz realizando esta missão que Deus pensou para mim. Mas tenho que reconhecer também o seguinte: minha vida não é só para minha própria felicidade, mas para os outros e para a salvação das almas. Espero e desejo até o final da minha vida poder desgastar cada momento para a salvação das almas e a extensão do seu Reino.